domingo, 29 de novembro de 2009

Sempre presente, ao meu lado

 

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Deus me concedeu o privilégio de ter três mulheres. Três mulheres a quem amo de forma incondicional. Três mulheres que dão significado à minha vida e uma dessas mulheres deu a vida às outras duas. É dessa mulher, mãe e esposa, que quero falar. É a essa mulher, a minha mulher, que aniversaria amanhã, que quero, neste momento, prestar minha singela homenagem.

Falar de você, minha companheira, minha amiga, minha confidente e amante, que me suporta e apoia há mais de trinta e quatro anos é uma tarefa das mais fáceis. Difícil é imaginar como seria viver esses trinta e quatro anos e os que ainda temos pela frente, sem você ao meu lado.

Lembra da promessa que fizemos um ao outro muitos anos atrás, ... ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença? Pois é, na época, me pareciam palavras protocolares, usadas para dar mais charme e glamour a uma cerimônia de casamento. Só recentemente atinei com o verdadeiro significado delas.

Ser fiel na alegria e na tristeza. Que coisa mais óbvia, quando se tem 24 anos. Que alegria. Tudo funciona, e muito bem. Basta um pequeno toque, um olhar insinuante, e o motor acelera. E acelera uma, acelera duas, acelera três, ... , a paixão se intensifica e como resultado de dois momentos sublimes dessa paixão, a maior de todas as alegrias: duas filhas maravilhosas. E claro, em todos esses momentos de incontida paixão, você se fez presente, ao meu lado. O ao meu lado, neste caso, é um recurso de retórica. Mas até aí, tudo era só alegria. O tempo, esse vilão implacável, vai passando, e com ele começam a aparecer em nossas vidas momentos tristes. Muito tristes. Um desses momentos foi a partida do meu pai, uma pessoa de quem sinto uma falta imensa. O que ficou foi uma enorme sensação de vazio e de impotência frente aos desígnios do Criador, uma sensação que só foi superada pelo ombro amigo que você me ofereceu. Mais uma vez você presente, ao meu lado.

Ser fiel na saúde e na doença. Que coisa mais óbvia quando se tem 24 anos. Somos os senhores do mundo. Inatingíveis. Nada, absolutamente nada, nos põe por terra. Somos verdadeiras muralhas. Era o que eu pensava. Mas o tempo, esse vilão implacável, passa, e com ele, os problemas de saúde começam a aparecer. Só então começamos a nos dar conta da nossa fragilidade. A muralha começa a desmoronar. Primeiro uma coluna que trava e com ela a necessidade de ser levado no colo, quase que literalmente falando, para o hospital. E quem foi esse alguém que nesse instante me pegou no colo? Você! Era você mais uma vez presente, ao meu lado. Depois são quatro pedras nos rins e uma dor tão lancinante, mas tão lancinante, que me levava às lágrimas. E você num gesto de solidariedade, algo muito presente em você, como que querendo repartir entre nós a dor que eu sentia, chorava junto comigo. Era você mais uma vez presente, ao meu lado. Não satisfeita com esse estado de coisas, a vida me presenteou com o diabetes. Uma doença contra a qual travo uma batalha diária. Uma batalha difícil e que aos poucos estou conseguindo vencer. Muito do mérito dessa vitória se deve a você, que nos momentos de crise aguda, quando o meu humor fica insuportável e agressivo, quando eu mesmo não consigo me suportar porque o organismo não reage da forma que quero, se mantém firme me dando o apoio necessário. É você mais uma vez presente, ao meu lado.

Como esquecer o quanto me tornei mais humano através do exemplo que vem do teu trabalho de voluntariado no HC? Como ficar insensível às histórias que comentas comigo, se é através dessas histórias que percebo o quão pequenos são alguns de meus problemas? Sinto muito orgulho desse teu trabalho. É muito fácil se doar a um ente querido. Eu não hesitaria em colocar em risco a minha vida para salvaguardar a tua e a das meninas. Mas, devo confessar, não tenho esse espírito de doação em relação ao próximo, que transborda em você.

Discreta e sem ser dada a arroubos, você me pediu que não comentasse a data do teu aniversário. Todos aqui presentes são testemunhas que atendi ao teu pedido e embora tenham sido feitas especulações de qual seria o motivo da reunião, me mantive fiel e não comentei com ninguém. Mas não dava mais para ocultar. A idade não nos torna apenas mais velhos, nos torna acima de tudo, mais experientes. E a experiência vem me ensinando que cada momento da vida, principalmente os felizes, devem ser vividos de maneira intensa e festejados como vitórias conquistadas, pois a certeza do minuto seguinte, só a Deus pertence.

Ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Hoje essa frase tem muito significado para mim. Hoje, por tudo que representamos um para o outro me sinto na obrigação de prolongar ao máximo o prazo de validade da promessa que fizemos e a motivação para isso vem de você que foi, é e sempre será a mulher da minha vida.

Te amo muito.

Francisco Ismael Reis.

AssinaturaFundoCla

29/11/2009.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A lagartixa

 

O fato ocorreu há muito tempo. A classe era de 5ª série do Ensino Fundamental, uma classe só de meninos. O assunto não me lembro mais. Sei, entretanto, que naquela época eu ainda usava avental para me proteger do pó de giz.

LagartixaA sala, com cerca de 40 alunos, estava repleta. Uma boa parte desses alunos demosntrava interesse pelo assunto que estava sendo desenvolvido e participava da aula com perguntas e se empenhava na resolução dos exercícios propostos.

Era uma manhã muito clara e agradável do outono e a luz intensa do sol que penetrava pelas janelas, começava a incomodar os alunos que se sentavam nas fileiras próximas a elas. Com o propósito de tornar mais agradável o ambiente de sala de aula, dirigi-me a uma dessas janelas na tentativa de fechar a cortina, um tanto quanto desgastada pela ação do tempo e do uso. Ao puxá-la, percebi que alguma coisa se despeendeu dela, sem entretanto identificar, naquele momento, do que se tratava. Senti que algo caiu dentro do bolso superior do meu avental. Tratei, imediatamente, de ver o que era.  Olhei para o bolso do avental e lá estava ela, uma lagartixa, assustada e ainda meio atordoada pela queda e pelo local inóspito.

Procurei manter a calma, para não perder o controle sobre a classe, que até esse momento não se apercebera do que estava acontecendo. Minha intenção era sair sorrateiramente da sala de aula e, uma vez no corredor, fora do olhar dos alunos, me livrar daquele ser pegajoso e intruso.

De repente, a lagartixa decide abandonar o bolso que a acolheu e atira-se, num gesto suicida, ao chão, na frente de todos aqueles alunos que, incrédulos no que viam, se levantaram e começaram a gritar e a correr para fora da sala, como se estivessem sendo atacados por um velociraptor.

Não sei dizer até hoje o que foi maior: o susto que a lagartixa levou por ter caido dentro do bolso do meu avental ou o provocado pela reação de uma classe descontrolada.

 

Francisco Ismael Reis.

AssinaturaFundoCla

02/11/2009.

sábado, 2 de maio de 2009

Valeu a pena!!!

 

Há um ditado que diz:

A Felicidade não existe, o que existem são momentos felizes.


Se esse ditado for verdadeiro, então hoje (02/05/2009), eu vivi um momento muito feliz. O motivo me foi proporcionado por um comentário deixado em meu Blog, bem abaixo da postagem que leva o título O Professor está sempre errado, e que ali foi deixado por uma pessoa que não conheço pessoalmente, que diz chamar-se Luiz Fermiano.

O Luiz, um aluno do 9º ano, tece elogios ao material de minha autoria Fundamentos da Matemática. A felicidade e a emoção com que escrevo este artigo, são decorrentes do fato desse elogio de ter vindo de um aluno do 9º ano.

Eu sempre defendi a tese de que todo autor de livros didáticos, quando escreve, embora tenha em mente a faixa etária do aluno que vai se utilizar desse material e procure se valer de uma linguagem que lhe permita apresentar os conceitos da forma mais didática possível, fazendo com que a intrepretação ocorra da forma mais natural possível, no fundo, no fundo, todo autor, ainda que de maneira inconsciente, não escreve diretamente para o aluno e sim para o professor desse aluno, uma vez que parte dele, o professor, o desejo de adotar ou não esse material.

Já recebi, por parte de colegas professores, os mais variados elogios, pela criação da coleção Fundamentos da Matemática. Incomum é receber esse tipo de elogio por parte de alunos, para quem, na grande maioria dos casos, estudar é um fardo enorme.

O reconhecimento e a gratidão manifestados pelo Luiz Fermiano, um aluno do 9º ano, que com certeza contou com o incentivo do seu Professor de Matemática, são sem sombra de dúvida, o motivo principal da felicidade e emoção que sinto neste momento e demosntram de forma clara e inequívoca que o tempo investido nesse longo projeto não foi desperdiçado, rendeu, sim, frutos nas pessoas do Luiz e de seu Professor de Matemática, dois seres humanos com enorme generosidade. Parafraseando Fernando Pessoa – “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” – e voces têm uma alma enorme, portanto, …  Valeu a pena!!!

 

Francisco Ismael Reis.

AssinaturaFundoCla

02/05/2009